Fazer o bem ao próximo independente de idade ou condição social. Esse foi o objetivo dos alunos da sétima turma do Curso de Aprendizes do Evangelho na Federação Espírita de São Paulo, no ano de 1960, que deram o primeiro passo neste sentido.

Ao findar a parte teórica do curso, os alunos precisavam colocar em prática uma atividade que exemplificasse a caridade. A turma queria realizar algo novo e significativo.

A proposta começa a ganhar forma quando, em 1962, Jacques Conchon recebe do “Comandante” Edgard Armond, na época Secretário Geral da Federação Espírita, um bilhete com um recorte de jornal que falava sobre o trabalho de prevenção do suicídio desenvolvido pelos “Samaritanos” de Londres.

O entusiasmo juvenil de Jacques o fez atravessar o Atlântico para conhecer mais sobre esse drama humano com o reverendo anglicano Chad Varah, que desenvolvia um trabalho pioneiro na prevenção ao suicídio.

Ao retornar para o Brasil, Jacques e seus colegas de turma começaram a estudar e pesquisar sobre o tema para, em seguida, dar início aos trabalhos do CVV – Centro de Valorização da Vida. O CVV começou a funcionar na Federação Espírita em uma sala onde os 17 voluntários tinham apenas um aparelho de telefone para o atendimento. O grupo se encarregava do atendimento, da divulgação e da organização do CVV, sem perder o foco e o objetivo da proposta: trazer as pessoas que atingiram o estágio de “conspiração silenciosa” para o limite da suportabilidade da vida.

Após 10 anos o sonho e o idealismo de um grupo já havia rompido os limites de uma sala para estar presente em várias cidades do país.

Para os voluntários era a hora de buscar novos desafios. Numa viagem Jacques conheceu o Dr. Roberto Mercatelli e sua esposa Genny de Castro Villas, administradores do Sanatório Sayão de Araras, SP.

Do encontro com o Dr. Roberto Mercatelli e de uma conversa com Chico Xavier, surgiu a ideia de se construir um Hospital Psiquiátrico para ampliar o atendimento oferecido pelo CVV.

O idealismo deste grupo de jovens alunos da Escola de Aprendizes do Evangelho ganhou o apoio de Waldemar Nunes, que doou um terreno em São Paulo para a construção do Hospital. Mas, por motivo de falta de documentação, foi necessário paralisar as obras.

Para solucionar o problema, Waldemar trocou a doação por um terreno de sua propriedade na cidade de São José dos Campos, SP, uma área de aproximadamente 7 alqueires.

O mesmo grupo que fundou o CVV deu início às obras para a construção da Clínica de Repouso em 1969. O grupo promovia eventos para arrecadar dinheiro e também se revezava para acompanhar a obra.

No dia 12 de agosto de 1972, foi inaugurada a Clínica de Repouso Francisca Júlia, com 72 pacientes vindos do Sanatório Juqueri. O atendimento em pouco tempo saltou de 72 para 173 leitos.

Da inauguração até hoje, quarenta anos depois, muitas coisas aconteceram, a Clínica de Repouso passou a Hospital Francisca Júlia e agora CVV Francisca Júlia. Cuidou das crianças órfãs e abandonadas no Lar Esperança, das crianças excepcionais na Casa da Criança Jesus Gonçalves, dos pacientes esquecidos pelas famílias na Casa de Transição, primeiro passo para o Serviço Residencial Terapêutico.

Pouco mais tarde, abriu as portas para os dependentes químicos e para as mulheres com problemas mentais, tanto para atendimento a convênios e particulares. Implementou os ambulatórios adulto e infantojuvenil, a Oficina Koisa de Loko e os consultórios.

Este breve relato histórico nos mostra que temos que saudar a iniciativa de um grupo de idealistas que não mediram esforços e nem hesitaram em dedicar as suas juventudes planejando e construindo projetos que serviram para a prática concreta do amor ao próximo e que ampararam a dor de muitas pessoas e famílias.

Parabéns ao CVV Francisca Júlia e parabéns aos jovens, Flávio Focássio, Wilson Focássio, Dr. Pedro Augusto Martins, Jacques André Conchon, Dr. Mario Seki, Valentim Lorenzetti, Suely Battaglia Conchon e Arnaldo Cesar da Silva Coutinho que, há 40 anos tornaram possível esta comemoração.

Parabéns ao Dr. Roberto Mercatelli, a Sra. Geni Mercatelli e ao Dr. Wilson Ferreira de Mello grandes incentivadores dessa obra.

Por que Francisca Júlia?

Jacques Conchon sempre acompanhava Joaquim nas viagens que fazia até a casa de Chico Xavier para ele aprovar as capas que fazia para seus livros.

Numa determinada viagem, Joaquim esqueceu a capa do livro em São Paulo e retornou para buscá-la, enquanto isso Jacques permaneceu na casa de Chico Xavier aguardando pelo seu retorno.

Inexplicavelmente, nesse dia Chico Xavier estava sozinho e com tempo livre para uma longa conversa com Jacques, que aproveitou a chance para comentar sobre os planos para a criação do CVV – Centro de Valorização da Vida.

Nesse dia Chico Xavier antecipou para Jacques o futuro do CVV e revelou que, além do CVV, também seria construído o Hospital Francisca Júlia, para tratamento psiquiátrico e dependência química, e os trabalhos seriam acompanhados por dois mentores espirituais: a própria Francisca Júlia e Batista Cepellos, ambos suicidas.

Posteriores pesquisas mostraram que Francisca Júlia havia sido uma importante poetisa que cometera suicídio após a morte precoce do seu marido, a quem devotava profundo amor. Em vida sempre se preocupou com os problemas sociais e com a angústia das pessoas. Muitas de suas poesias refletiam esse seu estado de espírito.

Nascido em Cotia, o mulato Batista Cepelos teve a educação e a carreira proporcionada por Francisco de Assis Peixoto Gomide, político influente na nova era republicana paulista.

Quando anunciou a intenção de se casar com Sofia, uma das filhas de Gomide, o pai da moça se trancou com ela num cômodo da casa e a matou com um tiro no peito, matando-se em seguida.

O poeta Batista Cepelos era, também, filho de Gomide, de uma relação que tivera aos 23 anos.

Batista mudou-se para o Rio de Janeiro e mais tarde foi encontrado morto em um penhasco no bairro do Catete. Não se sabe se foi assassinato ou suicídio.